A curimba é um dos pilares mais importantes de um terreiro de Umbanda. É por meio dos toques, dos cantos e da vibração dos instrumentos que se sustenta o campo energético da gira, facilitando a incorporação, fortalecendo os médiuns e conduzindo a espiritualidade durante o ritual.
Ser ogã é um chamado — e também um compromisso.

Este artigo apresenta o caminho de desenvolvimento dos ogãs da casa, explicando cada nível, suas responsabilidades e a postura esperada de quem escolhe trilhar essa jornada.


A FUNÇÃO DA CURIMBA

A curimba não é apenas o setor musical do terreiro.
Ela é o coração vibracional da gira.

Quando os atabaques tocam e os pontos são cantados com intenção correta, a energia se organiza, a vibração se eleva e os guias encontram campo para trabalhar com clareza e fluidez.
A curimba:

• Sustenta a energia da gira
• Conduz o ritmo espiritual
• Auxilia a concentração dos médiuns
• Harmoniza o ambiente
• Responde à necessidade espiritual de cada momento

Um ogã não toca apenas instrumentos: ele manipula energia, direciona intenções e participa diretamente da construção espiritual do terreiro. Por isso, sua formação exige disciplina, estudo e seriedade.


REGRAS GERAIS DA CURIMBA

Independente do nível, todos os ogãs devem obedecer aos seguintes princípios:

Todos devem cantar, com ou sem microfone.
• Não sair da curimba durante a gira sem autorização.
• Não beber água no meio de um ponto ou interromper o ritmo.
• Evitar conversas paralelas — foco total na energia da gira.
• Conhecer o significado dos pontos que toca e canta.
• Nunca treinar ou ensinar durante a gira — estudo é feito nas aulas.
• Seguir o líder do momento e ouvir os ogãs de níveis superiores.
• Repicar somente a partir do Nível 4.
• O atabaque é entregue ao ogã somente no Nível 6, e torna-se de uso exclusivo dele.

Essas regras garantem segurança energética para toda a casa.


OS NÍVEIS DE DESENVOLVIMENTO DA CURIMBA

A seguir, os graus da curimba e suas responsabilidades dentro da TUCS.


NÍVEL 1 – BUJÉ – APRENDIZ (Cor: Branco)

O início da caminhada.
O Bujé observa e absorve.

Responsabilidades:
• Aprende ritmos básicos
• Auxilia na manutenção dos instrumentos
• Participa das aulas de canto e ritmo
• Não repica, não puxa ponto e não improvisa
• Seu principal papel é ouvir, observar e aprender
• Pode tocar um ponto específico se o líder solicitar


NÍVEL 2 – CHAVIANA – PERCUSSIONISTA JÚNIOR (Cor: Rosa)

Aqui o ogã começa a interagir com a gira.

Responsabilidades:
• Executa ritmos simples seguindo os níveis superiores
• Participa dos pontos, mas não conduz
• Desenvolve audição e sincronização
• Não repica
• Mantém foco total na gira
Deve conhecer pelo menos 5 pontos de cada linha (guias e orixás), incluindo 1 de chamada e 1 de subida

Este nível marca a transição entre ouvir e começar a atuar.


NÍVEL 3 – GADJE – PERCUSSIONISTA PLENO (Cor: Amarelo)

O Gadje sustenta a gira.

Responsabilidades:
• Toca com autonomia e segurança
• Mantém o ritmo firme
• Ajuda ensinando ritmos (apenas nas aulas)
• Ainda não repica, mas sustenta a base
• Acompanha entradas e transições
Precisa conhecer pelo menos 7 pontos de cada linha, incluindo 1 de chamada, 1 de subida e 1 de demanda.

O Gadje começa a compreender o impacto energético do toque.


NÍVEL 4 – PATIV – PERCUSSIONISTA AVANÇADO (Cor: Verde)

O respeito nasce aqui.

Responsabilidades:
• Pode repicar e realizar solos quando requisitado
• Auxilia na composição de cantos e ritmos
• Ajuda na seleção e orientação de novos ogãs
• Sustenta a gira ao lado do Mestre de Ritmo
• Necessita maturidade energética para saber quando tocar e como tocar


NÍVEL 5 – RAKKARI – MESTRE DE RITMO (Cor: Azul)

O comando do toque.

Responsabilidades:
• Domínio total dos atabaques
• Lidera cantos e andamento da gira
• Ensina todos os níveis inferiores
• Controla o fluxo energético do terreiro pelo toque
• É referência técnica e espiritual em relação ao ritmo


NÍVEL 6 – DUKKAR – GUARDIÃO DO SOM (Cor: Vermelho)

Compromisso máximo com a curimba.

Responsabilidades:
• Liderança e supervisão geral da curimba
• Planeja ensaios e diretrizes musicais
• Representa a curimba em atividades externas
Recebe seu atabaque consagrado — a partir daqui, ninguém mais toca nele
• Cuida da harmonia interna da curimba em todos os aspectos


NÍVEL 7 – PHURAV – MESTRE DE CERIMÔNIAS (Cor: Dourado)

A maestria completa.

Responsabilidades:
• Guarda o legado espiritual e musical da casa
• Conduz iniciações de novos ogãs
• Mantém a pureza da linha musical
• Pode iniciar novos terreiros com autorização espiritual
• Sua palavra é referência máxima em toda a curimba


POR QUE O ESTUDO É TÃO IMPORTANTE?

O ogã não pode estudar apenas ritmo.
Ele precisa estudar pontos, história, significados e energias.

Errar o ponto é mais do que um erro musical — é um erro espiritual.

Exemplos:

• Se vários médiuns novos tentam incorporar e o ogã canta um ponto de demanda, a gira cai.
• Se um médium traz um kiumba para ser assistido e a curimba puxa um ponto de equilíbrio, o trabalho trava.
• Cada momento da gira pede um tipo de ponto: chamada, subida, firmeza, demanda, sustentação, descarrego.

Só estudo e dedicação permitem discernir cada situação.

Por isso NÃO pode haver vaidade nem pressa.
O ogã não sobe de nível porque “toca bonito”.
Sobe porque entende, sustenta e respeita a energia do terreiro.


CONCLUSÃO

Ser ogã é uma honra — mas também uma responsabilidade espiritual profunda.
A curimba é força viva. É condução. É sustentação.
E cada nível foi criado para guiar essa jornada com segurança e clareza.

Respeite seu nível.
Estude.
Treine.
Aprimore seu canto, seu toque e sua compreensão dos pontos.

A evolução da curimba depende de cada um — e de todos juntos.

Axé.

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