A sabedoria não cabe em 30 segundos.

Vivemos em uma era de informação abundante.
A cada toque na tela, surgem vídeos, lives e postagens sobre espiritualidade, fé e Umbanda. Esse acesso é algo grandioso: nunca foi tão fácil aprender, conhecer diferentes vertentes e ouvir tantas vozes falando sobre o mesmo caminho.

Mas é importante lembrar: quantidade não significa qualidade.

Nosso terreiro segue os ensinamentos de Rubens Saraceni, com base na Umbanda Sagrada, e também realiza entregas e oferendas dentro da tradição Omolocô. Mesmo dentro dessas vertentes, é comum encontrarmos interpretações diferentes — e está tudo bem. O problema começa quando o conteúdo é raso, contraditório ou criado apenas para gerar engajamento, sem compromisso com a verdade espiritual.


Cuidado com o conteúdo superficial

O algoritmo das redes sociais quer apenas manter nossa atenção. Ele não separa o que é fundamento do que é invenção.
Há pessoas sérias compartilhando sabedoria, mas também há quem fale apenas para conquistar seguidores — e muitas vezes misturam doutrinas diferentes, confundindo quem está começando a trilhar seu caminho espiritual.

Umbanda, Quimbanda, Umbanda Sagrada, Umbanda Mística… são religiões e doutrinas distintas, com fundamentos próprios. Nenhuma é “melhor” que a outra, mas cada uma tem sua base e seu propósito.
Por isso, é essencial ter discernimento espiritual: compreender o que faz sentido dentro da sua casa, da sua fé e daquilo que seu coração reconhece como verdadeiro.


A sabedoria não cabe em um story

Quem frequenta o terreiro sabe que um simples tema — como incorporação, mediunidade ou firmeza espiritual — pode render longas conversas e aprendizados profundos.
Então, como esperar compreender tudo isso em vídeos de 30 segundos, feitos para o público em geral?

A espiritualidade não é uma corrida de likes. É um caminho de vivência, estudo, paciência e fé.
Conteúdos rápidos podem até despertar a curiosidade, mas não substituem o estudo sério e o aprendizado dentro da corrente.


Quando o feed abala a fé

Recentemente, vivi uma situação que me fez refletir sobre isso.
Meu Caboclo, Sr. Sete Cachoeiras, havia pedido que eu comprasse um cocar. Assim que consegui me organizar financeiramente, encontrei um cocar lindo e senti que era aquele.
Mas antes de comprar, vi um vídeo nas redes sociais afirmando que o uso de cocares na Umbanda seria “errado”, com base em interpretações culturais de outras vertentes.

Travei.
Duvidei da minha própria intuição — e deixei de fazer o que meu guia havia pedido.

Na gira da cachoeira, recebi uma bronca merecida:

“Eu mostrei pra você o que eu queria, e um desconhecido te convenceu de que sua intuição estava errada? Que fé é essa?”

Aquela fala me fez entender o quanto deixamos, às vezes, que opiniões alheias abalem nossa conexão com o plano espiritual.
Comprei o cocar, e com ele, recuperei algo ainda mais valioso: a confiança no que vem da fé, e não do feed.


Discernimento é proteção

A internet pode ser uma grande aliada, desde que saibamos usá-la com sabedoria.
Antes de acreditar em tudo o que vemos, precisamos buscar a origem da informação, entender a vertente e avaliar se aquilo faz sentido dentro da nossa doutrina.

Procure canais sérios, livros, casas firmadas e orientações dos guias e dirigentes.
Desconfie de “atalhos espirituais” e de quem promete evolução em poucos dias.
Umbanda é caridade, mas também é disciplina, paciência e aprendizado constante.


Conclusão

As redes sociais aproximam, mas também confundem.
Elas podem ser pontes de aprendizado ou armadilhas da vaidade — e a diferença está no nosso discernimento.

A verdadeira sabedoria continua sendo passada da forma mais antiga e eficaz que existe: de guia para médium, de dirigente para filho, de coração para coração.

A Umbanda é viva, moderna e amorosa — mas o crescimento espiritual acontece mesmo é dentro do terreiro, diante do congá, na prática, na entrega e na fé.

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